sexta-feira, 18 de maio de 2012

TIRA A TEIMA OU NÃO?

18 de Maio / José Lúcio Marques
Copa Libertadores colocou em xeque o tira-teima da Globo
O gol de Alecsandro contra o Corinthians no jogo de ida das quartas de final da Copa Libertadores colocou em xeque o tira-teima da TV Globo. O lance foi tão duvidoso que o recurso tecnológico completo demorou a entrar em ação e só foi mostrado da forma 3D durante o Jornal da Globo. Durante a partida, a emissora havia mostrado um tira-teima simplificado.

A imagem com bonequinhos mostrou que o atacante do Vasco estava um pouco à frente, e a emissora carioca cravou o impedimento. Já a Fox Sports teve opinião distinta, indicando que o gol foi legal, na opinião do ex-árbitro Carlos Eugênio Simon.  Vascaínos passaram, então, a criticar a Globo nas redes sociais.
Nesta sexta-feira, na edição do Rio do programa Globo Esporte, o apresentador Alex Escobar mostrou uma matéria para explicar e defender a precisão do “super tira-teima”, como ele mesmo definiu.
“Desde a Copa de 86 a Globo usa essa tecnologia, que foi sendo aprimorada à medida que a computação gráfica evoluiu. Atualmente o equipamento utilizado é o mais moderno do mercado. No Brasil esse modelo é exclusividade da Globo”, discursou Escobar.
O apresentador explicou que as imagens são geradas, congeladas e posicionadas para facilitar a análise. Afirmou que é tudo feito “com precisão”. E justificou o uso de bonecos na simulação (foto acima). “É para ajudar a visualização do telespectador e, em algumas vezes, de nossos comentaristas”, disse.
Na sequência, a matéria colocou uma frase do ex-árbitro e atual comentarista Arnaldo Cézar Coelho dizendo que errou em seu julgamento inicial.
“Tirada a teima” (expressão usada por Alex Escobar), a matéria terminou com Nilton dando ‘dica’ para Alecsandro marcar o gol legalmente. “Falei para ele subir só com a perna esquerda. Precisava puxar a perna direita para tirar o impedimento”, brincou o volante.

Pensei em escrever algo sobre o assunto. Mas vasculhando a internet, deparei com o texto de Hélio Ricardo, quem eu já acompanho há algum tempo. Vi que seria desnecessário tentar produzir um. Até porque, no meu ponto de vista, o dele está ótimo! 

Hélio Ricardo Rainho é Carioca, publicitário, MBA em Marketing, ator, diretor teatral, escritor, pesquisador de escolas de samba, futebol e teatro. Escreveu a biografia do jogador Mauro Galvão e é colunista de futebol há 11 anos.


Leia o texto

Caso Tira-Teima: Concorrência Antiética na Transmissão Esportiva


Eis no que deu o brinquedo! O excesso de benesses políticas, as recorrentes arbitragens tendenciosas e as denúncias do árbitro Gutemberg de Paula Fonseca, pouco exploradas pela imprensa oficial, acabaram redundando em grande murmúrio no jogo Vasco x Corínthians realizado esta semana, dia 16/5, em São Januário, pela Copa Libertadores. Na oportunidade, um gol anulado do atacante Alecsandro, em lance de impedimento difícil de avaliar, causou grande rebuliço na internet e nas discussões de bar em geral.
Não foi o primeiro e não há de ser o ultimo debate acalorado sobre as coisas do futebol. A marcação de impedimento, em alguns casos, é realmente digna de controvérsias, porque pode exigir dos olhos dos árbitros uma tenacidade que humanamente seja variável ou até impossível. Chovia muito em São Januário e era possível que, no referido lance, alguém perdesse o foco certo para definir com justiça a questão.
As benesses e denúncias a que me referi na abertura deste texto justificam as suspeitas, as acusações e tudo o mais acerca da questão. Alimentam a polêmica do futebol. Como também, é claro, não se sabe se o  juiz teria critérios diferentes caso o gol beneficiasse o outro, e não o Vasco.
Sim, tudo isso é subjetivo e gera controvérsias.
Mas a estranheza, mesmo - ao pé da letra - foi o circo armado contra o Tira-teima, conhecido recurso tecnológico da Rede Globo para desfazer dúvidas em lances polêmicos dos jogos de futebol. No exato momento em que o gol foi anulado, antes de o recurso ser utilizado, o comentarista de arbitragem da emissora, Arnaldo César Coelho, afirmou que o gol fora legal. O uso do Tira-Teima, feito mais tarde, trouxe o depoimento do comentarista dizendo ter errado e reiterando a marcação correta de impedimento pelo juiz.
"Deu-se a melódia!" - diriam os antigos.
De um fato que poderia ser corriqueiro numa transmissão de futebol, criou-se um oba-oba nas redes sociais, fomentado por canais concorrentes, de que a Globo teria "manipulado o Tira-Teima" (?) seguindo a orientação de "ordens superiores urgentes" (?). Embalados nessa marola, torcedores passaram a acreditar e a divulgar a versão nas redes sociais. Pior: o canal Fox Sports, recém-estreante, resolveu fazer sua "versão" para o Tira-teima, mostrando, em recurso análogo, uma linha virtual traçada sobre o campo que contestava o veredito global. Nas redes sociais, o comentarista Milton Neves - encarnando o papel de chacoalhador insensato que lhe parece caber como a ninguém - também tripudiou do recurso tecnológico da emissora do Jardim Botânico. Os concorrentes estavam vingados! Seria isso? Mas, lamentavelmente, distorceram os fatos e conseguiram, sutilmente, enganar a audiência: manipularam as pessoas em favor de seus alvos particulares.
Poucos perceberam o que realmente aconteceu.
Sem que as pessoas se dessem conta, a discussão já havia saído, há muito tempo, da batalha da Libertadores para a guerra de audiência. A polêmica maior do jogo deixou de ser a arbitragem do Sr. Sandro Ricci (famoso por ter prejudicado outros adversários corintianos em campeonatos passados) e passou a ser o Tira-Teima da Globo. De cada dez postagens, nove eram para ofender ou desmentir a Globo, não para criticar o juiz. Um ato falho, até aceitável, dos torcedores inflamados. Porém um gesto antiético e sobremodo oportunista dos canais concorrentes.
A impressão que se tinha era de que a marcação do impedimento foi do Tira-Teima, e não do juiz. Ninguém quis perguntar-se a si mesmo se o juiz por acaso revalidaria o gol caso o Tira-Teima o considerasse legal. Clássica situação onde se culpa a janela por conta da paisagem!
O Tira-Teima é um recurso antigo da Rede Globo que nunca, em nenhum momento, jamais havia sido copiado por ninguém. Nem mesmo a Record (também chamada de "Recópia" por tentar o tempo todo assemelhar-se à Globo) praticou tal tubainagem. Já era de se estranhar, portanto, que uma tevê estreante como a Fox Sports tivesse o mesmo recurso de uma hora para outra. E justamente por ser a única que detém também os direitos de transmissão da competição, tendo a Globo por principal concorrente. A linha traçada pelo VT da Fox beirava o primitivismo virtual. As acaloradas discussões dos comentaristas desfocaram a discussão e, em pouco tempo, espalhou-se uma agressiva campanha contra o Tira-Teima global.
A edição do Globo Esporte de hoje, 18/5, esclareceu os fatos em uma matéria toda dedicada ao Tira-Teima, publicada no link http://globoesporte.globo.com/globo-esporte/videos/t/globo-esporte-rj/v/conheca-como-funciona-o-tira-teima-da-rede-globo/1953332/. Explicou como funciona, como é aplicado e reproduziu toda a análise para comprovar o que havia sentenciado. O recorte mostrou claramente a condição de impedimento do atacante Alecsandro, adiantado no momento em que Diego Souza toca-lhe a bola de cabeça.
Num vasto universo de blogueiros e analistas de futebol da grande web, percebe-se a carência de pessoas que efetivamente entendam a Comunicação Social numa hora como essa. Poucos perceberam o ato vil por detrás da onda. Muitos se levam pelos "ventos de doutrina", alardeiam o oba-oba e tornam-se cúmplices (in?)voluntários de uma campanha sensacionalista para tentar desmoralizar uma emissora. Tudo isso, claro, em proveito próprio e busca de espaço na guerra de audiência.
É lamentável que a guerra de audiência tenha enviesado para esse caminho populista e antiético justamente dentro da área do esporte, onde se prega tanto fairplay e se faz tanta apologia do respeito ao próximo.
Talvez regidos pelo mesmo termômetro da desconfiança com que viram as denúncias de Gutemberg de Paula Fonseca desaparecerem do cenário, não merecendo mais que os comentários do dia e nenhuma investigação por parte da imprensa especializada, torcedores acabaram embarcando na "teoria da conspiração", distorcendo fatos e fazendo a vontade dos manipuladores de discurso. Para um país que hoje se vangloria de sediar uma Copa, o caso Gutemberg de Paula Fonseca deveria ter quase a mesma repercussão dos recentes escândalos do bicheiro Cachoeirinha.
Ou será que não?
Lutemos, sim, contra a omissão de fatos e a ocultação de denúncias. Mas, sobretudo, de olhos abertos para não virarmos massa de manobra a serviço dos especuladores do lucro da audiência.

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