Embora ainda este blog não tenha a intenção de se enveredar por assuntos
políticos, o que na verdade chega a ser impossível, pois política é algo
que inconscientemente qualquer cidadão comum pratica no seu dia a dia, ou então ao menos
deveria praticar com consciência. Ontem (9/12), ao vasculhar a internet na
pesquisa de outro assunto para alimentar este blog, deparei com informações sobre
o lançamento de um livro, “Privataria Tucana” de Amaury Ribeiro Junior, trata
de política e fala sobre lavagem de dinheiro no Brasil. Pelo que parece será
uma bomba na esfera política. O livro apresenta 10 anos de investigações e além
de mostrar casos envolvendo o PSDB, nele também, mostra detalhes e reforça denúncia
de lavagem de dinheiro contra Ricardo Teixeira.
Procurando mais informações sobre o assunto, encontrei no
Blog Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha e também reproduzidos pelo
Blog do Juca Kfouri, onde o autor do livro Amauri Ribeiro Jr. reuniu documentos
públicos, conseguidos em cartórios e junta Comercial do Rio de Janeiro.
Reproduzo aqui a matéria do Blog Vi o Mundo, do jornalista
Luiz Carlos Azenha.
José Lúcio Marques
A bomba que vai estourar no colo de Teixeira
No livro Privataria Tucana, Amaury Ribeiro Jr. faz menção às
investigações feitas por ele sobre a fortuna do presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, a partir de documentos públicos referentes ao cartola, obtidos na
Junta Comercial e em cartórios do Rio de Janeiro. É curioso como quem tem
experiência na investigação de lavagem de dinheiro bate o olho na papelada e
logo monta o quebra-cabeças.
A empresa RLJ Participações (R de Ricardo, L de Lúcia e J de
João, presumimos) foi montada em maio de 1992. É muito importante ficar de olho
nas datas. Notem como é curioso: quando a empresa foi formada aparecem como
testemunhas o advogado Alberto Ferreira da Costa (que não assina) e Guilherme
Terra Teixeira (irmão de Ricardo Teixeira):
Em 29 de julho de 1992, em Vaduz, Liechtenstein, quem é que
recebe procuração para assinar pela Sanud no Brasil? Sim, o Alberto Ferreira da
Costa, que aparece como testemunha no ato de formação da RLJ. Em tese, a Sanud
era uma empresa investidora no Brasil. Fica um claro ar de arranjo:
Aqui ficamos sabendo, também, que a Sanud surgiu em 7 de
novembro de 1990 e que quem assina por ela em Liechtenstein é o dr. Alex
Wiederkehr, advogado criador de empresas que funcionam em uma caixa postal e
servem de fachada para lavar dinheiro de origem suspeita ou desconhecida das
autoridades.
Em seguida, a Sanud se torna sócia da RLJ no Brasil, mais
precisamente em 28 de setembro de 1992.
Fast forward para 06/10/1994, na mais recente mudança
societária registrada na Junta Comercial do Rio de Janeiro: quem assina pela
Sanud é o irmão de Teixeira, aquele que lá atrás testemunhou o nascimento da
RLJ Participações.
Nada disso é novidade — ou pelo menos não deveria ser — para
investigadores ou jornalistas brasileiros.
Uma das CPIs que investigaram a CBF já tinha sentido o
cheiro de lavanderia: a Sanud fez empréstimos à RLJ, registrados pelo Conselho
de Controle das Atividades Financeiras (COAF), órgão ligado ao Ministério da
Fazenda. Mas a RLJ nunca pagou de volta!
A novidade é que, quando a rede BBC denunciou Teixeira e
João Havelange como destinatários da propina da International Sports Marketing
(ISL), empresa que pagou para garantir contratos lucrativos com a FIFA, a
emissora britânica teve acesso à lista com valores e datas dos pagamentos.
E quando foi o primeiro pagamento da ISL à Sanud, de 1
milhão de dólares?
10 de agosto de 1992.
Ou seja:
16 de maio de 1992, formada a RLJ;
29 de julho de 1992, Sanud passa procuração para Alberto
Ferreira da Costa em Vaduz, já prevendo que a Sanud se tornaria sócia da RLJ
Participações no Brasil;
10 de agosto de 1992, Sanud recebe a primeira propina
listada pela ISL;
28 de setembro de 1992, Sanud se torna sócia da RLJ.
Também tivemos acesso à lista e fica claro que, à medida em
que a Sanud recebia mais e mais dinheiro de propina lá fora, os investimentos
da RLJ cresciam e cresciam no Brasil
O propinoduto da ISL foi documentado por um
juiz-investigador da Suiça. A papelada foi trancafiada numa corte de Zug.
Advogados de Teixeira e Havelange bloquearam a divulgação. Várias empresas
jornalísticas querem acesso à papelada e estão tentando isso por via judicial.
O repórter Andrew Jennings, que fez a denúncia na BBC, acha
que a FIFA está sob pressão de quem interessa… dos grandes patrocinadores, que
não querem associar suas marcas a uma entidade agora conhecida por toda sorte
de falcatruas. Isso sem falar na pressão política de governos como o da
Inglaterra, que se julgou lesada ao perder o direito de sediar a Copa.
A rede de proteção de Havelange e Teixeira, lá fora, está se
rompendo, como demonstra a decisão de Havelange de se afastar do Comitê
Olímpico Internacional (COI) antes que fosse saído.
Mas, voltando aos documentos exibidos acima — que, repito,
já são de conhecimento até do mundo mineral — o Amaury costuma ensinar que há
quatro indícios claríssimos de lavagem de dinheiro: empréstimos ou
investimentos vindos do Exterior, sem que a origem seja conhecida; o uso de
parentes nos negócios relacionados aos ” investimentos” (no caso de Teixeira, o
irmão, o filho e o sobrinho); empresas que recebem grandes quantias mas dão
prejuízo (caso da RLJ, que gastou um montão de dinheiro sem dar retorno);
sinais exteriores de riqueza.
O surpreendente, mesmo, é que Teixeira e a CBF tenham sido
alvo de duas CPIs no Congresso — ambas resultaram em relatórios incriminadores
— e que a gente continue falando sobre o mesmo assunto mais de uma década
depois, sem maiores consequências.